domingo, 29 de julho de 2007

Columbofilia: Desporto Clandestino?

Desde há uns tempos a esta parte que todos os intervenientes neste desporto chamado " COLUMBOFILIA", se deparam com uma assustadora diminuição nos seus praticantes.
Todos nós sabemos que a vida está difícil para todos os portugueses, fruto, na sua maioria , da falta de agentes políticos sérios e que, verdadeiramente, se preocupem com o bem estar dos cidadãos que se propuseram dirigir.
Cada interveniente no nosso desporto sabe, com clareza, quanto custa sustentar uma colónia de pombos, com todas as despesas que a ela digam respeito.
Esta será, porventura, a razão principal do abandono da modalidade com todas as consequências daí resultantes.
Entretanto, julgo ser extremamente pertinente chamar a atenção dos gestores das estâncias superiores da columbofilia no sentido de verificarem no erro instalado desde sempre e que está a travar e ao mesmo tempo a desmotivar quem quer que seja para continuar ou vir para a columbofilia.
Como é sabido, para praticar qualquer actividade desportiva, é necessário a existência de infraestruturas: Estádios para prática de futebol, pavilhões para ginástica, andebol, basquetebol, judo etc., piscinas para natação e outros desportos, enfim uma série de locais sem os quais nenhuma actividade será possível ser praticada.
A Columbofilia, apesar de ser uma actividade "sui generis", não foge á regra e também necessita de locais próprios sem os quais é totalmente impossível a sua prática: São eles - POMBAIS.
Neste momento, 80% dos pombais portugueses estão ilegalmente construídos, á revelia das respectivas Câmaras Municipais e se porventura os seus proprietários tivessem a iniciativa em legalizá-los, uma boa percentagem, para não dizer a quase totalidade, seria inviabilizado.
De acordo com uma das regras, da qual tomei conhecimento recentemente, as autarquias proíbem a construção de anexos com mais que um andar.
Sabendo todos nós quanto é indispensável, na maioria dos casos, ter um pombal em local altaneiro para melhores entradas dos pombos, fácil será concluir que são esses os locais escolhidos pelos columbófilos para localização dos pombais, ou seja, a sua construção nesses locais, é necessariamente clandestina e passível de constantes conflitos que acabam, na sua maioria na demolição compulsiva do pombal.
Muito mais útil do que um dirigente columbófilo vir nos "suplicar" que arranjemos mais um praticante para a modalidade, seria, de imediato, haver protocolos sérios com as cãmaras municipais, no sentido de alterarem as suas regras, no que diz respeito à edificação de pombais, por forma a que toda a gente interessada deixasse de sentir medo em ser columbófilo e passasse a poder praticar um desporto que há muito é considerado clandestino.

Mário Carlos Areosa

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Lágrimas de um columbófilo

 
Tem setenta e alguns anos. Não sei ao certo.
Fui visitá-lo recentemente e como tantas outras vezes, dei com ele sentado no pombal, imóvel, pensativo e com um ar triste.
A campanha tinha acabado. Estava agora na companhia dos seus amigos pombos, a fazer o balanço da última época desportiva.
Notei-lhe uma pequena lágrima ao canto do olho.
Hesitei se havia de me afastar ou manter-me ali. Senti que estava a ser um intruso num pequeno mundo que não era, naquele momento, o meu.
Viu-me e já não me deixou sair.
Levou a mão ao bolso e com o lenço limpou a lágrima que já lhe escorria pela cara abaixo.
Pensei em nada dizer mas a amizade que nos une, obrigou-me a querer saber a causa daquela tristeza. Levou algum tempo e começou a falar...
Disse-me que estava a agradecer aos pombos os momentos felizes que, ao longo de uma vida, lhe tinham proporcionado.
Entretanto, de repente, tinha-se lembrado do Pombo Azul, do Vermelho, do Pena Branca, do cigano, do setenta e oito e de tantos outros aos quais não podia agradecer por não estarem ali. Onde estariam, não sabia. Algures por esse país fora ou em Espanha, presos onde quer que tenham entrado para mitigar a sede e de onde nunca mais os deixaram sair. Outros mortos...talvez.
A culpa não era deles. A culpa era dos homens que não lhes proporcionaram as devidas condições para regressarem e agora, quanto mais não fosse, nem para lhes agradecer os bons momentos que lhe fez passar, o podia fazer.
Levantou-se do pequeno banco onde estava sentado, respirou fundo e com um esforço, voltou a sorrir.
Nos cacifos do seu pequeno pombal, voltava a haver vida. Novos borrachos já se movimentavam e com eles o renascer de esperanças futuras.
Desejou que ao menos aqueles viessem a ter melhor sorte do que os da época anterior e que os homens de quem eles dependem, especialmente dirigentes, deixassem de ser tão maus.
Mário Carlos Areosa