Tinha eu vinte anos e
não tinha vinte “paus” no bolso, quando me aconteceu o que lhes vou contar.
Preocupava-me com o 1º ano de Letras,
aos tombos com a Literatura Inglesa; tinha garantida a subsistência de um mês
com a paternal mesada; possuía as solas do meu par de sapatos com promessas de
longos dias de vida; vivia feliz e sem cuidados.
Não tinha grandes dinheiros, comodidades
eram normais e poucos luxos; mas tinha vinte anos, um coração alegre, 32 dentes
afiados para o que desse e viesse ao prato, um estômago que digeria os
alimentos de... empreitada, que me forneciam pernas de ferro e saúde do mesmo
metal...Que mais se pode querer aos vinte anos?
E, para cúmulo da felicidade, tinha a
janela das águas furtadas, janela cujas portas já não sabiam fechar-se, porque
os gonzos, por falta de exercício, tinham perdido o movimento.
Não sei se, mais tarde, alguém se
lembrou de curar aquela paralisia dos gonzos.
Que janela mágica!
Que noites de Julho passadas a essa
janela em mangas de camisa, com as costas obstinadamente voltadas para o candeeiro
e sobretudo para o compêndio, que adormecera aberto, desesperando de me fazer
dormir a mim!
Por uma dessas noites, encostado ao
peitoril, deixava eu errar a vista pela
floresta de chaminés, que se destacavam no ar, sobre os telhados das casas que
dali se viam, e corria-me á rédea solta a vagabunda, “a folle du logis” – a
imaginação, enfim.
Quem, depois de duas horas de meditação,
poderá narrar por ordem, todas as loucuras, que me atravessaram o cérebro?
Ao cabo de longo cismar, os meus olhos
começaram a contar as luxes que brilhavam como pirilampos, no fundo negro das
casas.
Pouco a pouco essas luzes foram-se
extinguindo, uma a uma, e ficaram apenas duas, em pontos diametralmente opostos
e a enorme distância uma da outra.
A quem alumiarão? Serão costureiras? Pobres pequenas! Será desgraçado poeta, tão alheio ao
século, ás voltas com uma estrofe? Serão mães, que velam filhos doentes,
criminosos, a quem as trevas engrossam o remorso? Serão... o que quiserem ser! – bradei eu de repente, agarrando a
tresloucada cabeça, que parava a tomar fôlego para novas correrias. Não há remédio! – disse eu,
espreguiçando-me; e ia a retirar-me da
janela, quando vi que uma das luzes se movia.
Era meia-noite.
A luz continuou a mover-se e acabou por
aparecer francamente à janela a que assomava um vulto, que eu não podia
distinguir se era de homem, se de mulher.
Lançando instintivamente os olhos para a
outra janela, notei o mesmo manejo de luz e verifiquei a aparição de outro
vulto! Cheguei á conclusão que,
decididamente, aquelas duas janelas entendem-se!
Estava eu estudando aquela telegrafia,
quando um ligeiro ruído me chamou a atenção.
Investiguei o espaço e vi um pequeno
ponto negro que se dirigia para mim.
Será um morcego?
Receoso do repelente contacto, recuei,
mas o vulto negro, em vez de bater nos vidros da janela, entrou por ela dentro,
esbarrando-se contra a parede fronteira, caindo de chofre sobre a minha cama.
Peguei no candeeiro que me iluminava o
livro de estudo e caminhei um pouco para o presumível inimigo...
A luz espalhou-se sobre a cama.
Que lindo pombo preto!
E
era, realmente, um lindo pombo-correio.
O pobrezinho estava tão cansado, que se
deixou apanhar, sem reagir.
Pousei o candeeiro sobre a mesa e pus-me
a analisar o visitante.
De repente, os meus dedos,
introduzindo-se por baixo de uma das asas, encontraram um corpo estranho: era
um papel atado por uma linha.
Apoderei-me do bilhete, apesar de duas
picadelas que o fiel mensageiro me deu,
em defesa do que ele, naturalmente, considerava depósito sagrado.
Soltei o pombo, que voou para a janela,
onde se empoleirou, e abri o bilhete.
Eis o seu conteúdo:
“ Elisa:
“ Foi mais um dia perdido!... Tudo se
conspira contra nós e começo a perder a esperança de conseguir o que tua mãe
exige de mim, para consentir a nossa felicidade”
“ Que mais te hei-de eu dizer, se, no
pouco que ai fica dito, te causo uma noite de insónia e de lágrimas!?”
“ Adeus!... Amo-te – António”
Quem será este António?... E quem será
aquela Elisa?... – perguntava eu, voltado para o pombo, que me mirava,
espantado, com os seus olhinhos inteligentes. Deixo partir o “carteiro”... não
deixo...
Comecei eu a dizer de mim para mim.
Acerquei-me da janela. Uma das luzes
tinha desaparecido; a outra movia-se agitada por mão assustada e ansiosa.
Compreendo – “rosnei” eu. O senhor
António escreveu aquela choradeira, mandou-a ao correio, fechou a janela,
apagou a luz e já está a dormir como um porco, enquanto que a pobre da rapariga
está ali a mirrar-se, desesperadinha, agitando o farol, na esperança de atraír
o pombo transviado. Um atentado contra o direito das pessoas! Soltemos o
pombo!...
Anda cá, pequenino – continuei,
ameigando a voz para não o assustar. Tu terás fome?...
Dei-lhe de comer e não fez cerimónia. Em
seguida bebeu um pouco.
Depois peguei nele, amarrei de novo o
bilhete debaixo da asa, abri a janela e soltei-o.
Passados instantes, a luz retirava-se e
desaparecia. A “mala” tinha chegado ao seu destino.
Só muito para a madrugada consegui
adormecer.
Quando acordei e vi os restos do pão que
tinha dado ao pombo, saltei da cama e corri à janela. Por mais que fiz, não
pude dizer com certeza quais eram as casas em que vira brilhar as luzes.
Fiquei logo de mau humor. Vesti-me,
almocei á pressa e fui para as aulas.
O professor chama-me, dou um estanderete
monumental.
Raios partam o pombo!
Andei todo o dia de candeias ás avessas.
Á noite não saí, e pus-me á janela.
Que grande azar!... Havia luz em todas as casas.
Esta cambada não tem sono! – pensava
eu. Ide pr’a cama, imbecis!...
Afinal, como na véspera, as luzes
foram-se sumindo uma a uma, e ficaram apenas as duas.
O pombo não vem... Foi um acaso do
pombo... – dizia eu por entre dentes, em resposta à voz secreta que me dizia o
contrário.
De repente, as luzes começaram a repetir
a dança da véspera...
Subitamente, o pombo entrava sem
hesitação e voava direito ás migalhas de pão.
Dizia assim a resposta da Elisa:
“António:
Não imaginas os transes por que me fez
passar o nosso confidente!... Levou-lhe meia hora a chegar!...”
“ Se queres que te diga... Tenho hoje
receio de te escrever com a franqueza do
costume, porque já pela demora, já pela maneira diferente por que vinha
amarrado o teu bilhete, desconfio que o pombo foi detido na passagem...”
( Oh! Diabo! – exclamei eu, vendo-me
descoberto).
“ Coragem, António!... Não desanimes!...
A exigência da minha mãe é fundada num louvável sentimento de previdência...”
“ Pode levar tempo a realizar o nosso
desejo, mas... não temos nós confiança
bastante um no outro?... Se o pombo se desviasse outra vez... Se alguém lesse
isto...”
“ Nem me atrevo a escrever mais...”
“ Adeus! Amo-te – Elisa”
Pobre rapariga!... Compreendi o pudor
daquela alma, ao saber-se devassada, mas... o mal estava feito.
Tornei a soltar o mensageiro.
No dia seguinte interceptei o seguinte
bilhete:
“Elisa:
O pombo também na volta se demorou mais
do que o costume.
Se é uma senhora quem se entrega ao
mesquinho prazer de nos angustiar, espero que, ao ler estas linhas, se
lembrará que despreza todos os ditames
da delicadeza.
Se é um homem, dir-lhe-ei que é ridícula
essa curiosidade e criminosa por ser satisfeita na sombra e com a certeza da
impunidade.
Esta mensagem, é mais para ser lida por quem
interceptou as outras do que escrita para ti.
– António.
O sangue tingiu-me as faces, a
consciência aceitou a censura; mas eu tinha vinte anos que se viram
contrafeitos e tive a cruel coragem de escrever na mesma carta de António as
seguintes palavras:
“Exmª Snrª:
Não sei se V.Exª gosta de pombo com
ervilhas...
Ou V.Exª convence o António a contar-me
o começo destes amores, a instruir-me sobre a educação dos pombos a voarem de
noite, coisa que eu nunca vi antes, e a comunicar-me a exigência de cuja realização depende o consentimento de
sua Exmª mãe, ou, na volta do correio, depois de amanhã, mando comprar as
ervilhas.”
No dia seguinte, o mensageiro reconduzia
a carta de António, em que eu escrevera o que acima fica, sem um único
comentário da jovem .
Elisa deixava a António a decisão de tão
momentoso assunto.
Á noite recebia eu a seguinte carta do
pobre namorado e mais uma vez trazida pelo pombo.
“Senhor
Juro que dava anos de vida para conhecer
quem assim se atravessa entre duas almas que, receosa da terra e dos homens, se
comunicam por intermédio da inocência de um pombo e através dos espaços do céu.”
“ O senhor foi cruel!...
“ Eu fui talvez inconveniente: devia
lembrar-me que quem tem a coragem de forçar um segredo, mal poderia aceitar a
censura que por tal abuso lhe fizessem...”
“ Andei mal, ando hoje pior em me
mostrar independente, quando o amor e o sossego de quem amo me aconselham o
papel de suplicante.”
“ Não posso!... Um sentimento, a que o
senhor me parece alheio – a dignidade – não permite.”
“ Quer conhecer a história do nosso
amor?... Vou contar-lha!
“ Leia.
“ Por uma amena tarde de Verão – haverá
dois anos – estava eu no meu quarto, em convalescença de prolongada doença,
quando, pela janela entrou o pombo que o senhor conhece.”
“ Aborrecido e buscando em vão
distrair-me, atravessou-me uma ideia o cérebro.”
“ Ergui-me, fechei a janela e escrevi
numa folha de papel:
“ Se, na casa onde a estas horas choram
talvez a tua ausência, há uma mulher jovem e bela, leva-lhe os votos de ventura
de um coração que ainda não amou!..
“ Agarrei o pombo e confiei-lhe a..
pieguice, que acaba de ler.”
“ No dia seguinte, com espanto meu,
entrava o pombo, como na véspera, portador desta resposta:
“ Uma mulher jovem, a quem ainda ninguém
disse que era bela, agradece a restituição do “Preto” cuja ausência lamentava e
retribui os votos de ventura.”
“ Assim se travou uma correspondência
que durou cerca de dois meses, sem que a palavra “Amor” fosse empregada de
parte a parte.”
“ Ao cabo de dois meses, pedi á minha
incógnita correspondente que me dissesse onde podia vê-la.”
“ Depois de muitas cartas trocadas, em
que eu insistia e ela recusava, veio uma em que me marcava a missa das onze, no
domingo seguinte e me daria sinais certos para a reconhecer.”
Fui.
“ Não posso descrever a ansiedade que me
torturava!...”
“ E se era feia!?...”
“ Era, aliás, é uma formosura!”
“ Que doce prazer me arrebatava a alma,
vendo-a ali , de joelhos, estudando ansiosa o rosto de todos os rapazes, sem me
poder ver a mim, que a estava observando, encoberto pelo reposteiro!”
“ A missa acabou; ela ergueu-se, e, ao
passar junto de mim, murmurei em voz abafada: “Obrigado!...”
“ Elisa não pôde reter um pequeno grito; as faces tingiram-se-lhe de
vermelho e, lançando-me um olhar entre assustado e curioso, aconchegou-se á mãe
e saiu.”
“ Escusado é dizer que a segui.”
“ Começaram então a falar de amor as
nossas cartas transportadas pelo pombo.”
“ Eu era contabilista de uma casa
respeitável e tinha um ordenado subido.”
“ Entendi que não seria repelido, e
encarreguei um amigo meu de pedir à mãe a mão da Elisa.”
“ A mãe acolheu-me perfeitamente,
tratávamos já das mil pequeninas coisas
necessárias a quem põe casa, embora modesta, quando, haverá um ano, o
comerciante que eu servia morreu de repente.”
“ Os herdeiros liquidaram o negócio e eu
fiquei... e estou desempregado.”
Depois disso a mãe teve a seguinte
conversa comigo:
“ António!... Sei que é um rapaz
trabalhador e honrado, pois, se o não soubesse, não lhe daria a minha filha”
“ Sabe que só á força de economia
consigo sustentar a ela e a mim, com a modesta pensão que recebo do estado?”
“ Enquanto o António não arranjar novo
emprego, não é possível pensar em casamento.
“ E – continuou ela – perdoe-me o mal
que vou fazer-lhe, mas é preciso que o António deixe de vir a minha casa.
“ Somos duas mulheres; o mundo é mau,
pode este casamento não chegar a realizar-se...È preciso que deixe de vir
aqui!”
“ Protestos, rogos, lágrimas, tudo tem
sido baldado!”
“ A mãe da Elisa é inabalável e as
minhas economias desaparecem, fazendo-me antever a miséria num futuro pouco
distante.”
“ Aí tem a minha história!”
“ Faça o que entender!”
“ O pobre pombo contraiu relações
novas... Depende de si roubar a duas almas, a única felicidade que lhes resta,
fazendo desaparecer o único meio de comunicação que as liga.”
“ Não imploro, resigno-me! – António
Não é preciso explicar-lhes o remorso
que senti!
Corri á mesa e escrevi o seguinte:
“ Perdão para os meus vinte anos!...”
“ Juro-lhe que o pombo entrará no meu quarto e sairá dele, sem que a
minha mão lhe torne a tocar!”
“ Peça ao António que me perdoe.”
No dia seguinte, “O Preto” entrava no
quarto, trazendo dois bilhetes, amarrados por fora das asas.
Um deles dizia: -“ Para o desconhecido”
Abri-o avidamente e li esta única
palavra: “ Obrigado!”
No dia imediato, o pombo igualmente dois
bilhetes, presos da mesma forma.
Peguei no que me era dirigido e li:
“ O senhor é bom... Enganei-me...
Perdoe-me!
António
E o pombo continuou a vir todos os dias
ao milho e ás migalhas.
Fiel á minha palavra, nunca mais tentei
devassar os segredos confiados ao voo possante do “Preto” e só, de tempos a
tempos, a oferta de uma flor ou uma palavra de gratidão vinham pagar-me a
discrição.
Durante esse período da minha vida,
costumava relacionar-me com uma família inglesa
onde o seu chefe era deveras meu amigo e, se mais vezes não me aproveitava dos frequentes convites
que me fazia, para ir jantar com ele e com, “miss” Alice, sua filha, era porque
não queria tornar-me maçador.
Numa das várias vezes que visitei o
senhor Gibson, este perguntou-me:
Você nunca assistiu a um funeral
protestante?
Funerais não são do meu agrado...nem de
ninguém. Respondi-lhe que não.
Pois se quiser, pode assistir hoje á
tarde... Ás quatro horas enterra-se o meu contabilista, coitado.
Claro que não fui ao enterro. Era o que
faltava.
Á noite estava no meu quarto a pôr uma
gravata preta para visitar os meus amigos ingleses, quando o pombo entrou.
Chovia a cântaros, e o pobre do “Preto”,
antes de comer os primeiros grãos de milho, sacudiu as penas três vezes e
pareceu agradecer-me o carinho com que o acolhi no meu quarto.
Quando, passados minutos, o obriguei a
partir e vi as duas luzes, não pude deixar de dizer:
Quanto tempo mais durará ainda aquele
penar?.
Não virá um dia em que baste uma luz
para ambos?...
Nisto tive uma ideia e, dando uma
palmada na testa, exclamei:
Oh! Mas que ideia!
Fui-me deitar reconfortado com a ideia
que tinha tido.
Ás quatro horas da tarde do dia
seguinte, batia á porta do senhor Gibson.
O criado indicou-me que ele não demorava
e que a menina Alice andava no jardim.
A nossa conversa cifrava-se, quase
sempre, num esgrimir de ironias, tendentes a demonstrar a vantagem que havia em ter nascido português ou inglês.
Apresentei-me a “miss” Alice com desusada gravidade, pois que contava com ela,
para realizar a ideia que me ocorrera na véspera.
Você que tem?... Hoje o seu aspecto é
sério... quase inglês! – perguntou ela.
Estou muito triste – respondi eu.
Ora deixe-se disso que não me convence.
Contei-lhe a história inteirinha dos
dois enamorados e do pombo, Ela, com o seu ar puramente inglês, só me disse: “
Schocking”!
Mas o que é que eu tenho a ver com essa
história? – perguntou ela.
Ajude-ma numa boa acção!
Os olhos de Alice, até ali cravados no
chão, ergueram-se radiantes, os lábios abriram-se e murmuraram simplesmente:
Diga!
Faça com que o seu pai contrate o
António para o lugar de contabilista – respondi eu.
Oh! Que feliz ideia! Vou já falar com
ele.
E partiu a correr, ligeira como uma
gazela.
Já lhe falei! – disse ela passados
quinze minutes.
Três dias depois, amarrava eu com inexplicável prazer á asa do pombo, um
bilhete nestes termos:
“ Pode o António apresentar-se aos
senhores Norris & Camp; Cª por quem será
admitido como contabilista.
A carta, em que o António me participava
que tinha sido admitido, terminava assim:
“
Graças a si, meu desconhecido amigo, antevejo um futuro de felicidade!...
Escrevi à mãe da Elisa, e a senhora permite que lá vá hoje á noite e fixar o
dia do nosso casamento,”
“ Sou completamente feliz, meu amigo!...
Completamente, não. Não hei-de eu agora conhecê-lo? Já agora seja bom em
tudo... Diga-me o seu nome!”
Consultei a “miss” Alice e proibiu-me
terminantemente que me desse a conhecer. Agradava-lhe o mistério... Segui o seu
conselho e recusei satisfazer o justo desejo do António e da Elisa.
Mr. Gibson, a pedido meu,
proporcionou-me ocasião de ir ao seu escritório.
Perguntei pelo contabilista.
Era um rapaz com boa aparência e com ar
de inteligente.
Retirei-me satisfeito com ele e comigo.
“ O pombo – seja dito em louvor da
gratidão dos dois namorados, finalmente unidos – não deixou uma única noite de
vir visitar-me, trazendo-me sempre palavras de reconhecimento.
Passado um ano, foi ele portador da
seguinte mensagem:
“ Meu bom amigo!”
Informamo-lo que acabamos de ter uma
filha e eu fiz voto de que não seria baptizada, se o senhor se recusasse a
servir-lhe de padrinho... Responda, por favor! Elisa.
Tornei a ir consultar o meu
”advogado”, a formosa inglesa.
E agora... Não há remédio! – respondeu ela.
O pombo “preto” foi portador do meu
consentimento.
No dia seguinte, apresentava-me em casa
de António e Elisa.
Oito dias depois, na igreja das
redondezas, perguntava o abade:
Alice, “vis baptizari”?
E eu, padrinho, respondia :
“Volo”.
E o resto da assistência, respondia:
“Bolo”
E está acabada a história.
P.S. – “O Preto” foi durante dois anos
portador dos convites que me fazia o António e a Elisa para ir jantar com eles.
Numa dessas corridas, chegou a casa
atordoado, voou duas vezes à volta do quarto deles e foi cair morto sobre o
berço da pequenina, penhor da felicidade dos dois, felicidade que só a ele era
devida.